Pesquisadores brasileiros investigam preferência de gatos para arranhar tecidos de sofá

Enquanto chenile é o tecido mais preferido, sintético e gorgorão impermeável são evitados pelos gatos

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Se você é tutor de gato e já teve seu sofá ‘destruído’ pelas arranhaduras do seu pet, saiba que o tipo de tecido que cobre o seu móvel pode influenciar nessa questão. Em um estudo publicado este ano na revista internacional Journal of Applied Animal Welfare Science, a equipe do Alexandre Rossi e a pesquisadora Caroline Marques Maia avaliaram as preferências de gatos em ONGs para arranhar tecidos que são muito frequentes nos móveis estofados dos tutores: suede, chenile e sintético. Os pesquisadores também investigaram as respostas de preferência dos felinos para arranhar gorgorão impermeável, um tecido geralmente visto como ‘anti-gato’, assim como o suede.

Para realizar o estudo, os pesquisadores construíram um aparato semelhante a um grande arranhador com quatro postes, sendo que cada poste foi coberto por um tipo diferente desses quatro tecidos. Esse arranhador foi disponibilizado por alguns dias consecutivos em três diferentes ONGs que resgatam gatos abandonados e os felinos foram então filmados enquanto usavam essa estrutura. Em seguida, os pesquisadores registraram o tempo e a frequência das arranhaduras dos gatinhos em cada tecido a partir dos vídeos e determinaram as escolhas diárias que eles fizeram pelos tecidos com base nisso. As preferências dos gatos foram então inferidas a partir das respostas de escolha que foram consistentes ao longo dos dias.

Apesar da variação considerável dos contextos ambientais e sociais entre as ONGs avaliadas, os pesquisadores conseguiram detectar um claro padrão na resposta de preferência dos gatinhos, independente da ONG em que estavam. O chenile foi sempre preferido enquanto, por outro lado, tanto o sintético quanto o gorgorão impermeável foram evitados pelos felinos em vista dos outros tecidos disponíveis na estrutura com os postes. Em relação ao suede, a resposta de preferência dos gatos variou entre as ONGs, sendo este um tecido ora preferido ora evitado pelos felinos.

Mesmo os resultados do estudo apontando que os gatos dessas ONGs não gostam muito de arranhar sintético ou gorgorão impermeável, os pesquisadores destacam que isso não significa que esses animais não vão arranhar esses mesmos tecidos se apenas eles estiverem disponíveis no ambiente. Na falta de opção de escolha, é possível que o gatinho arranhe o tecido que estiver disponível – seja ele qual for, especialmente considerando que o comportamento de arranhar é algo tão natural e importante para os felinos.

Além disso, como o estudo foi realizado em ONGs, ou seja, em um contexto ambiental e social que geralmente é bem diferente do que encontramos nas casas dos tutores, mais estudos são necessários para avaliar se essa resposta é de fato mantida quando os gatos estão no cenário doméstico. Os pesquisadores ainda pontuam que independentemente dos resultados do estudo, é importante lembrar que a presença de arranhadores próprios para gatos na casa dos tutores é sempre fundamental para assegurar melhores condições de bem-estar para os felinos, especialmente se evitarmos tecidos que eles gostam de arranhar em outras estruturas e móveis do ambiente.

Veja o artigo na página da revista aqui.

Carol é bióloga, mestre e doutora em Zoologia pela Unesp e especialista em Jornalismo Científico pelo Labjor da Unicamp. Faz parte da equipe FishEthoGroup (FEG) de cientistas internacionais, desenvolvendo perfis de comportamento e bem-estar de espécies de peixes criadas em cativeiro, participando de pesquisas e fazendo divulgação científica, além de ser colaboradora no Instituto GilsonVolpato de Educação Científica - IGVEC. Em 2016 criou o blog ConsCIÊNCIA Animal para divulgar comportamento e bem-estar animal para as pessoas em geral, que comanda até hoje. Tem publicado diversos materiais jornalísticos em veículos como ComCiência, Observatório da Imprensa e Ciência na Rua. Ama animais e o meio ambiente, gosta de pintar e adora assistir um bom filme ou série.